quarta-feira, 15 de maio de 2013

Constanza Pascolato: "Copiei moças mais velhas e me dei mal"


LIÇÃO DE ESTILO Costanza Pascolato diz que elegância é vestir-se de acordo com quem você é (Foto: Fábio Cordeiro/Ed. Globo)"O ano era 1955. Eu tinha 15 anos. Um jovem italiano, amigo da família, me convidou para acompanhá-lo num almoço de inverno à beira da piscina de uma família paulistana multimilionária. A ocasião exigia elegância. Não combinava com as meias soquetes, daquelas que cobrem apenas os tornozelos, que minha mãe me fazia usar e eu detestava. Àquela altura e, sobretudo na minha família, muito tradicional, as garotas eram educadas para se vestir como menininhas até completar 18 anos. Avisei a minha mãe que meias soquetes seriam inadequadas. Sempre cuidei de cada detalhe da minha roupa com certo exagero. Quando tinha 3 anos, morava em Roma. Minha mãe já mandava fazer minhas roupas na costureira. No Brasil, meu guarda-roupa continuou sob medida. Lembro-me de chorar em frente ao espelho, aos 5 anos, quando não gostava do caimento.

Como não quis usar as meias soquetes, tive de pegar emprestadas as meias de seda da minha mãe. Eram presas por cinta-liga, senão escorregavam. A meia-calça só surgiu mais tarde, nos anos 1960, para acompanhar a minissaia e a estética adolescente americana. No dia do almoço, usei saia plissada de lã, camisa, cardigã, sapato mocassim, as meias e a cinta-liga, que prendi sozinha. Era a mais jovem da turma e tímida, mal falava. Depois do almoço, os meninos resolveram jogar cartas e fui caminhar em volta da piscina. Senti que todos me olhavam. De repente, horror dos horrores! A cinta-liga se soltou e minha meia começou a escorregar pelas pernas. Ela ia caindo... e eu segurava, desesperada. Quando me dei conta, a meia toda estava nos tornozelos. Fiquei petrificada, encarando as pessoas. A dona da casa apareceu e me levou para me arrumar.

Se agora, aos 73 anos, tenho desenvoltura com a moda. Devo bastante àquele dia. Hoje, prezo o conforto e, quando tenho de contornar imprevistos, tiro de letra. Como boa virginiana, passei a me organizar tecnicamente. Tenho uma agenda e sei exatamente a quantos e a que lugares vou ao longo do dia. Daí me visto de acordo. Seguindo esse raciocínio, percebo que, naquela situação, teria sido melhor usar a bendita meia soquete. Paciência, pelo menos eu seria quem eu realmente era, sem fingir ser crescida como as outras convidadas. Acho cafona copiar alguém, não ser autêntico. E as meias, no fim das contas, me dariam um ar meio Lolita. Seria interessante.

Para minha sorte, o rapaz nem se importou com a gafe. No verão seguinte, voltou ao Brasil. Dessa vez, nos encontramos no Guarujá. Eu nadava muito bem e usava um maiô Dior. Não tinha como errar."
Revista Época

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